05/12/2017

“Apenas sendo verdadeira com as nossas fraquezas somos capazes de potencializar nossas forças e entender que isso tudo é o que constrói a singularidade.” – Karina

“Chá de gengibre e uma música impactante para relembrar pedaços de vivências que constroem quem estou. Foi em 2014 que conheci Alexandre Grand, época em que a vida voltava a acontecer, depois de seis meses de quimioterapia para tratar um câncer. Seguimos contato via Facebook, esse perfil no qual muitas vezes nos mostramos e nos escondemos. Através de suas fotos pude perceber sua maneira de enxergar o mundo, afinal as nossas produções genuínas revelam muito do que mora em nós.

Em abril de 2017, volto ao médico para mais uma revisão anual e meu coração se enche de gratidão por ouvir que continua tudo bem. Era chegado o momento de participar desse projeto de retratos que envolve auto-estima e empoderamento das mulheres, tema tão necessário numa sociedade que nos castra diariamente. Me coloco disposta e atenta às falas do Alê na entrevista e percebo que mostrar minhas neuras para que sejam capturadas pelas lentes do Alê passa, antes de tudo, pela minha capacidade de olhar para cada uma delas. O espelho do outro faz a gente literalmente refletir. E só assim somos capazes de encontrar novas perspectivas e trocar as lentes que usamos para olhar a nós mesmos. Apenas sendo verdadeira com as nossas fraquezas somos capazes de potencializar nossas forças e entender que isso tudo é o que constrói a singularidade.

No dia e local combinado, Alê me deixa a vontade pra ser, viver e sentir os desejos que me chegam no aqui e agora. Resgato o contato com as sensações que a água, o vento, a areia e o sol me trazem e vou com a mente livre experienciando o vazio de tudo que mora em mim. Vou catando as conchas na areia, a água morna aquece minhas canelas, vou deixando fluir apenas o sentir. Relembro de uma Karina criança, de pele bronzeada de sol, de aparência de bife a milanesa de tanto rolar na areia. Ao olhar para o encontro do céu com o mar, os vôos dos pássaros, me lembro de Fernão Capelo Gaivota e da necessidade de sermos a todo tempo liberdade e coração na busca pela plenitude.

Com cuidado e atenção Alê vai percebendo a cada expressão minha os sentimentos que me atravessam. Pessoa rara, ser humano grandioso e profissional admirável! Vamos juntos dialogando sobre os meus pedaços que ainda não são amados, mas que também são dignos de aceitação, admiração e acolhimento. Fotografamos majoritariamente o meu perfil esquerdo. Não a toa. Eu sempre amei mais o direito. Fiquei reflexiva sobre essas coisas. Talvez seja isso: entender que na resistência pelo que ainda não aprendemos a amar há uma grande oportunidade de nos redescobrirmos.
Corro, sento, levanto, deito, sou surpreendida pela maré, sorrio, franzo a testa, fico séria, fico desconfiada, fecho os olhos, seguro, solto, respiro fundo, rodo, me movimento e assim relembro que o próximo passo é voar!
Grata pelos encontros e pelas trocas que a vida me traz, sem elas eu nada seria. Sou o que posso ser agora. Apenas Karina e isso tem me bastado.”
Mais fotos desse ensaio, aqui!